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  1. <body>
  2. <p>
  3. Quarta-feira, 19 de Março de 2003 I Série - Número 100
  4. <br />
  5. <br />
  6. IX LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2002-2003)
  7. </p>
  8. <p>
  9. REUNIÃO PLENÁRIA DE 18 DE MARÇO DE 2003
  10. </p>
  11. <p>
  12. Presidente: Ex.mo Sr. João Bosco Soares Mota Amaral
  13. </p>
  14. <p>
  15. Secretários: Ex. mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco
  16. <br />
  17. Ascenso Luís Seixas Simões
  18. <br />
  19. Isabel Maria de Sousa Gonçalves dos Santos
  20. <br />
  21. António João Rodeia Machado
  22. <br />
  23. <br />
  24. </p>
  25. <p>
  26. S U M Á R I O
  27. </p>
  28. <p>
  29. <br />
  30. O Sr. Presidente declarou aberta a sessão às 15 horas.
  31. <br />
  32. Deu-se conta da apresentação dos projectos de lei n.os 256 a 260/IX.
  33. <br />
  34. Em debate mensal com o Parlamento, sobre a questão do Iraque, o Sr. Primeiro-Ministro (Durão Barroso), após uma intervenção inicial, respondeu a questões colocadas pelos Srs. Deputados Eduardo Ferro Rodrigues (PS), Guilherme Silva (PSD), Telmo Correia (CDS-PP), Carlos Carvalhas (PCP), Luís Fazenda (BE), Isabel Castro (Os Verdes), Manuel Alegre (PS), Teresa Patrício Gouveia (PSD), António Costa (PS), Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP), Bernardino Soares (PCP) e José Vera Jardim (PS).
  35. <br />
  36. O Sr. Presidente encerrou a sessão eram 17 horas e 55 minutos.
  37. <br />
  38. </p>
  39. </body>
  40. <body>
  41. <p>
  42. 4186 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  43. </p>
  44. <p>
  45. &nbsp;
  46. </p>
  47. <p>
  48. O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.
  49. </p>
  50. <p>
  51. Eram 15 horas.
  52. </p>
  53. <p>
  54. Srs. Deputados presentes à sessão:
  55. </p>
  56. <p>
  57. Partido Social Democrata (PSD):
  58. <br />
  59. Abílio Jorge Leite Almeida Costa
  60. <br />
  61. Adriana Maria Bento de Aguiar Branco
  62. <br />
  63. Alexandre Bernardo Macedo Lopes Simões
  64. <br />
  65. Ana Maria Sequeira Mendes Pires Manso
  66. <br />
  67. Ana Paula Rodrigues Malojo
  68. <br />
  69. António Edmundo Barbosa Montalvão Machado
  70. <br />
  71. António Fernando de Pina Marques
  72. <br />
  73. António Henriques de Pinho Cardão
  74. <br />
  75. António Joaquim Almeida Henriques
  76. <br />
  77. António Manuel da Cruz Silva
  78. <br />
  79. António Maria Almeida Braga Pinheiro Torres
  80. <br />
  81. António Pedro Roque da Visitação Oliveira
  82. <br />
  83. Arménio dos Santos
  84. <br />
  85. Bernardino da Costa Pereira
  86. <br />
  87. Carlos Alberto da Silva Gonçalves
  88. <br />
  89. Carlos Alberto Rodrigues
  90. <br />
  91. Carlos Jorge Martins Pereira
  92. <br />
  93. Carlos Manuel de Andrade Miranda
  94. <br />
  95. Carlos Parente Antunes
  96. <br />
  97. Diogo de Sousa Almeida da Luz
  98. <br />
  99. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco
  100. <br />
  101. Eduardo Artur Neves Moreira
  102. <br />
  103. Eugénio Fernando de Cerqueira Marinho
  104. <br />
  105. Fernando António Esteves Charrua
  106. <br />
  107. Fernando Jorge Pinto Lopes
  108. <br />
  109. Fernando Pedro Peniche de Sousa Moutinho
  110. <br />
  111. Fernando Santos Pereira
  112. <br />
  113. Francisco José Fernandes Martins
  114. <br />
  115. Gonçalo Dinis Quaresma Sousa Capitão
  116. <br />
  117. Gonçalo Miguel Lopes Breda Marques
  118. <br />
  119. Guilherme Henrique Valente Rodrigues da Silva
  120. <br />
  121. Henrique José Monteiro Chaves
  122. <br />
  123. Hugo José Teixeira Velosa
  124. <br />
  125. Isménia Aurora Salgado dos Anjos Vieira Franco
  126. <br />
  127. João Bosco Soares Mota Amaral
  128. <br />
  129. João Carlos Barreiras Duarte
  130. <br />
  131. João Eduardo Guimarães Moura de
  132. <br />
  133. João José Gago Horta
  134. <br />
  135. João Manuel Moura Rodrigues
  136. <br />
  137. Joaquim Miguel Parelho Pimenta Raimundo
  138. <br />
  139. Joaquim Virgílio Leite Almeida da Costa
  140. <br />
  141. Jorge José Varanda Pereira
  142. <br />
  143. Jorge Manuel Ferraz de Freitas Neto
  144. <br />
  145. Jorge Tadeu Correia Franco Morgado
  146. <br />
  147. José Agostinho Veloso da Silva
  148. <br />
  149. José António Bessa Guerra
  150. <br />
  151. José António de Sousa e Silva
  152. <br />
  153. José Manuel Álvares da Costa e Oliveira
  154. <br />
  155. José Manuel Carvalho Cordeiro
  156. <br />
  157. José Manuel de Matos Correia
  158. <br />
  159. José Manuel Ferreira Nunes Ribeiro
  160. <br />
  161. José Manuel Pereira da Costa
  162. <br />
  163. Judite Maria Jorge da Silva
  164. <br />
  165. Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira
  166. <br />
  167. Luís Filipe Alexandre Rodrigues
  168. <br />
  169. Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves
  170. <br />
  171. Luís Filipe Soromenho Gomes
  172. <br />
  173. Luís Manuel Machado Rodrigues
  174. <br />
  175. Luís Maria de Barros Serra Marques Guedes
  176. <br />
  177. Manuel Alves de Oliveira
  178. <br />
  179. Manuel Filipe Correia de Jesus
  180. <br />
  181. Manuel Ricardo Dias dos Santos Fonseca de Almeida
  182. <br />
  183. Marco António Ribeiro dos Santos Costa
  184. <br />
  185. Maria Assunção Andrade Esteves
  186. <br />
  187. Maria Aurora Moura Vieira
  188. <br />
  189. Maria Clara de Morais Rodrigues Carneiro Veríssimo
  190. <br />
  191. Maria da Graça Ferreira Proença de Carvalho
  192. <br />
  193. Maria do Rosário da Silva Cardoso Águas
  194. <br />
  195. Maria Eulália Silva Teixeira
  196. <br />
  197. Maria Goreti Maia da Costa Machado
  198. <br />
  199. Maria Isilda Viscaia Lourenço de Oliveira Pegado
  200. <br />
  201. Maria Leonor Couceiro Pizarro Beleza de Mendonça Tavares
  202. <br />
  203. Maria Manuela Aguiar Dias Moreira
  204. <br />
  205. Maria Natália Guterres V. Carrascalão da Conceição Antunes
  206. <br />
  207. Maria Ofélia Fernandes dos Santos Moleiro
  208. <br />
  209. Maria Paula Barral Carloto de Castro
  210. <br />
  211. Maria Teresa da Silva Morais
  212. <br />
  213. Maria Teresa Pinto Basto Gouveia
  214. <br />
  215. Mário Patinha Antão
  216. <br />
  217. Melchior Ribeiro Pereira Moreira
  218. <br />
  219. Miguel Fernando Alves Ramos Coleta
  220. <br />
  221. Paulo Jorge Frazão Batista dos Santos
  222. <br />
  223. Pedro do Ó Barradas de Oliveira Ramos
  224. <br />
  225. Pedro Filipe dos Santos Alves
  226. <br />
  227. Pedro Miguel de Azeredo Duarte
  228. <br />
  229. Rodrigo Alexandre Cristóvão Ribeiro
  230. <br />
  231. Rui Manuel Lobo Gomes da Silva
  232. <br />
  233. Rui Miguel Lopes Martins de Mendes Ribeiro
  234. <br />
  235. Salvador Manuel Correia Massano Cardoso
  236. <br />
  237. Sérgio André da Costa Vieira
  238. <br />
  239. Vasco Manuel Henriques Cunha
  240. <br />
  241. Vítor Manuel Roque Martins dos Reis
  242. </p>
  243. <p>
  244. Partido Socialista (PS):
  245. <br />
  246. Acácio Manuel de Frias Barreiros
  247. <br />
  248. Alberto de Sousa Martins
  249. <br />
  250. Alberto Marques Antunes
  251. <br />
  252. Ana Catarina Veiga Santos Mendonça Mendes
  253. <br />
  254. Ana Maria Benavente da Silva Nuno
  255. <br />
  256. Antero Gaspar de Paiva Vieira
  257. <br />
  258. António Alves Marques Júnior
  259. <br />
  260. António Bento da Silva Galamba
  261. <br />
  262. António de Almeida Santos
  263. <br />
  264. António José Martins Seguro
  265. <br />
  266. António Luís Santos da Costa
  267. <br />
  268. António Ramos Preto
  269. <br />
  270. Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho
  271. <br />
  272. Artur Rodrigues Pereira dos Penedos
  273. <br />
  274. Ascenso Luís Seixas Simões
  275. <br />
  276. Carlos Manuel Luís
  277. <br />
  278. Edite Fátima Santos Marreiros Estrela
  279. <br />
  280. Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita
  281. <br />
  282. Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues
  283. <br />
  284. Elisa Maria da Costa Guimarães Ferreira
  285. <br />
  286. Fausto de Sousa Correia
  287. <br />
  288. Fernando dos Santos Cabral
  289. <br />
  290. Fernando Ribeiro Moniz
  291. <br />
  292. Francisco José Pereira de Assis Miranda
  293. <br />
  294. Jaime José Matos da Gama
  295. <br />
  296. Jamila Bárbara Madeira e Madeira
  297. <br />
  298. João Barroso Soares
  299. <br />
  300. Joaquim Augusto Nunes Pina Moura
  301. <br />
  302. Joel Eduardo Neves Hasse Ferreira
  303. <br />
  304. Jorge Lacão Costa
  305. <br />
  306. Jorge Manuel Gouveia Strecht Ribeiro
  307. <br />
  308. Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho
  309. </p>
  310. </body>
  311. <body>
  312. <p>
  313. 4187 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  314. </p>
  315. <p>
  316. &nbsp;
  317. </p>
  318. <p>
  319. José António Fonseca Vieira da Silva
  320. <br />
  321. José Apolinário Nunes Portada
  322. <br />
  323. José Augusto Clemente de Carvalho
  324. <br />
  325. José Carlos Correia Mota de Andrade
  326. <br />
  327. José Manuel Lello Ribeiro de Almeida
  328. <br />
  329. José Manuel Santos de Magalhães
  330. <br />
  331. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
  332. <br />
  333. Júlio Francisco Miranda Calha
  334. <br />
  335. Laurentino José Monteiro Castro Dias
  336. <br />
  337. Leonor Coutinho Pereira dos Santos
  338. <br />
  339. Luís Alberto da Silva Miranda
  340. <br />
  341. Luís Manuel Capoulas Santos
  342. <br />
  343. Luísa Pinheiro Portugal
  344. <br />
  345. Luiz Manuel Fagundes Duarte
  346. <br />
  347. Manuel Alegre de Melo Duarte
  348. <br />
  349. Manuel Maria Ferreira Carrilho
  350. <br />
  351. Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira
  352. <br />
  353. Maria Amélia do Carmo Mota Santos
  354. <br />
  355. Maria Celeste Lopes da Silva Correia
  356. <br />
  357. Maria Cristina Vicente Pires Granada
  358. <br />
  359. Maria Custódia Barbosa Fernandes Costa
  360. <br />
  361. Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina
  362. <br />
  363. Maria do Carmo Romão Sacadura dos Santos
  364. <br />
  365. Maria do Rosário Lopes Amaro da Costa da Luz Carneiro
  366. <br />
  367. Maria Helena do Rêgo da Costa Salema Roseta
  368. <br />
  369. Maria Isabel da Silva Pires de Lima
  370. <br />
  371. Maria Manuela de Macedo Pinho e Melo
  372. <br />
  373. Maximiano Alberto Rodrigues Martins
  374. <br />
  375. Miguel Bernardo Ginestal Machado Monteiro Albuquerque
  376. <br />
  377. Nelson Madeira Baltazar
  378. <br />
  379. Osvaldo Alberto Rosário Sarmento e Castro
  380. <br />
  381. Paula Cristina Ferreira Guimarães Duarte
  382. <br />
  383. Paulo José Fernandes Pedroso
  384. <br />
  385. Renato Luís de Araújo Forte Sampaio
  386. <br />
  387. Rosa Maria da Silva Bastos da Horta Albernaz
  388. <br />
  389. Rosalina Maria Barbosa Martins
  390. <br />
  391. Rui António Ferreira da Cunha
  392. <br />
  393. Rui do Nascimento Rabaça Vieira
  394. <br />
  395. Teresa Maria Neto Venda
  396. <br />
  397. Vicente Jorge Lopes Gomes da Silva
  398. <br />
  399. Victor Manuel Bento Baptista
  400. <br />
  401. Vitalino José Ferreira Prova Canas
  402. <br />
  403. Vítor Manuel Sampaio Caetano Ramalho
  404. <br />
  405. Zelinda Margarida Carmo Marouço Oliveira Semedo
  406. </p>
  407. <p>
  408. Partido Popular (CDS-PP):
  409. <br />
  410. Álvaro António Magalhães Ferrão de Castello-Branco
  411. <br />
  412. Antonino Aurélio Vieira de Sousa
  413. <br />
  414. António Herculano Gonçalves
  415. <br />
  416. Diogo Nuno de Gouveia Torres Feio
  417. <br />
  418. Isabel Maria de Sousa Gonçalves dos Santos
  419. <br />
  420. João Nuno Lacerda Teixeira de Melo
  421. <br />
  422. João Rodrigo Pinho de Almeida
  423. <br />
  424. José Miguel Nunes Anacoreta Correia
  425. <br />
  426. Manuel de Almeida Cambra
  427. <br />
  428. Manuel Miguel Pinheiro Paiva
  429. <br />
  430. Narana Sinai Coissoró
  431. <br />
  432. Paulo Daniel Fugas Veiga
  433. <br />
  434. Telmo Augusto Gomes de Noronha Correia
  435. </p>
  436. <p>
  437. Partido Comunista Português (PCP):
  438. <br />
  439. António Filipe Gaião Rodrigues
  440. <br />
  441. António João Rodeia Machado
  442. <br />
  443. Bernardino José Torrão Soares
  444. <br />
  445. Bruno Ramos Dias
  446. <br />
  447. Carlos Alberto do Vale Gomes Carvalhas
  448. <br />
  449. Jerónimo Carvalho de Sousa
  450. <br />
  451. José Honório Faria Gonçalves Novo
  452. <br />
  453. Lino António Marques de Carvalho
  454. <br />
  455. Maria Luísa Raimundo Mesquita
  456. </p>
  457. <p>
  458. Bloco de Esquerda (BE):
  459. <br />
  460. Joana Beatriz Nunes Vicente Amaral Dias
  461. <br />
  462. João Miguel Trancoso Vaz Teixeira Lopes
  463. <br />
  464. Luís Emídio Lopes Mateus Fazenda
  465. </p>
  466. <p>
  467. Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV):
  468. <br />
  469. Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia
  470. <br />
  471. Isabel Maria de Almeida e Castro
  472. </p>
  473. <p>
  474. O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, o Sr. Secretário vai proceder à leitura do expediente.
  475. </p>
  476. <p>
  477. O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram admitidas, as seguintes iniciativas legislativas: projectos de lei n.os 256/IX - Elevação da povoação de Odiáxere, no município de Lagos, a vila (PSD), que baixou à 4.ª Comissão, 257/IX - Aprova o estatuto dos juízes militares e dos assessores militares do Ministério Público (PSD e CDS-PP), que baixou às 1.ª e 3.ª Comissões, 258/IX - Altera e republica a Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro (Lei da Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais) (PSD e CDS-PP), que baixou às 1.ª e 3.ª Comissões, 259/IX - Aprova o novo Código de Justiça Militar e revoga a legislação existente sobre a matéria (PSD e CDS-PP), que baixou às 1.ª e 3.ª Comissões, e 260/IX - Estabelece medidas de protecção da orla costeira (PS), que baixou à 4.ª Comissão.
  478. </p>
  479. <p>
  480. O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos aguardar um momento que os membros do Governo dêem entrada na Sala.
  481. </p>
  482. <p>
  483. Pausa.
  484. </p>
  485. <p>
  486. Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Ministros, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados: Esta sessão plenária foi convocada em circunstâncias de todos conhecidas e é preenchida com o debate mensal com o Primeiro-Ministro, antecipado relativamente à data prevista, que era na próxima semana, e tendo por objecto a questão do Iraque.
  487. <br />
  488. O debate vai desenrolar-se nos moldes previstos no artigo 239.º do Regimento, que são de todos conhecidos, pelo que não vale a pena estar aqui a recordá-los. Pensei que fosse possível fazer alguma flexibilização na utilização dos tempos, mas não houve consenso para alterarmos a regra regimental e, por isso, vamos aplicá-la.
  489. <br />
  490. Assim, o Sr. Primeiro-Ministro terá 12 minutos para a sua intervenção inicial, seguindo-se a primeira volta de perguntas, a primeira das quais caberá ao maior partido da oposição, e dispondo cada um dos oradores de 5 minutos, tendo possibilidade de replicar à resposta do Sr. Primeiro-Ministro (também por 5 minutos) por um tempo de 3 minutos e podendo o Sr. Primeiro-Ministro treplicar novamente pelo mesmo período de 3 minutos.
  491. <br />
  492. A segunda volta tem regras diferentes, como sabem, sendo então as intervenções de 3 minutos para cada um dos que nela participam; o mesmo se passa na terceira volta, limitada apenas aos dois maiores partidos.
  493. <br />
  494. Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, o debate de hoje versa um tema extremamente importante, decorre em condições que são de todos conhecidas (e, portanto, não vou enfatizá-las) e vai ser seguido certamente
  495. </p>
  496. </body>
  497. <body>
  498. <p>
  499. 4188 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  500. </p>
  501. <p>
  502. &nbsp;
  503. </p>
  504. <p>
  505. com grande atenção por toda a opinião pública, por todos os nossos concidadãos, através dos meios de comunicação social. Assim sendo, apelo muito veementemente para que mantenhamos a altura do debate, a dignidade dos comportamentos, que corresponde à gravidade da situação e à nossa própria dignidade como representantes do povo português.
  506. <br />
  507. Peço também que a exposição das ideias seja feita com toda a transparência, com todo o rigor e com todo o vigor, mas salvaguardando-se o respeito devido às opiniões de todos, poupando os habituais incidentes de defesa da honra, que manifestamente não beneficiam ninguém e também não ajudam a própria imagem do Parlamento.
  508. <br />
  509. Para iniciar o debate, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, que dispõe, para o efeito, de 12 minutos.
  510. </p>
  511. <p>
  512. O Sr. Primeiro-Ministro (Durão Barroso): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Cimeira Atlântica, realizada, no passado domingo, nos Açores, produziu duas declarações de particular importância: uma acerca da relação transatlântica e uma outra acerca da crise iraquiana.
  513. <br />
  514. Em primeiro lugar, o Presidente dos Estados Unidos da América e os Chefes dos Governos do Reino Unido, da Espanha e de Portugal reafirmaram o compromisso de manter a solidariedade transatlântica.
  515. <br />
  516. Trata-se de um compromisso essencial. A relação da Europa com os Estados Unidos da América foi importante no passado e será importante no futuro.
  517. </p>
  518. <p>
  519. O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!
  520. </p>
  521. <p>
  522. O Orador: - Ela foi responsável por mais de 50 anos de paz na Europa. Ela é decisiva no combate ao terrorismo e aos novos desafios que se colocam à segurança internacional.
  523. <br />
  524. Fazer tábua rasa da experiência e da importância desta aliança seria uma irresponsabilidade.
  525. </p>
  526. <p>
  527. Vozes do PSD e do CDS-PP: - Muito bem!
  528. </p>
  529. <p>
  530. O Orador: - Ao contrário, valorizá-la e reafirmá-la é valorizar os valores da liberdade e da democracia em que todos acreditamos e reafirmar o contributo vital da cooperação entre a Europa e os Estados Unidos para a defesa mútua e a manutenção da paz no mundo.
  531. </p>
  532. <p>
  533. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  534. </p>
  535. <p>
  536. Divergências momentâneas entre aliados não podem ser aproveitadas para impedir a busca de soluções para os problemas comuns que, em conjunto, temos de enfrentar. Esta é a nossa convicção. Esta é a minha inabalável esperança.
  537. <br />
  538. O Médio Oriente é um desses problemas. Foi importante e é significativo que os governos dos quatro países, reunidos nos Açores, tivessem afirmado a sua visão de paz para aquela região, assente na existência de dois Estados: o Estado de Israel e o Estado da Palestina.
  539. </p>
  540. <p>
  541. Vozes do PSD e do CDS-PP: - Muito bem!
  542. </p>
  543. <p>
  544. O Orador: - Portugal identifica-se totalmente com a mensagem transatlântica saída desta Cimeira - ela corresponde à preocupação que permanentemente temos sublinhado. Como nos orgulhamos pelo facto de esta Cimeira ter sido realizada em território português - ela reforça a importância estratégica dos Açores e realça o acerto e a credibilidade da política externa portuguesa que tem, na defesa do eixo transatlântico, um dos seus pilares essenciais.
  545. </p>
  546. <p>
  547. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  548. </p>
  549. <p>
  550. Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os Governos de Portugal, do Reino Unido, da Espanha e dos Estados Unidos da América assumiram também nesta Cimeira uma posição muito clara sobre o Iraque. E a mensagem dada foi ainda um derradeiro apelo à paz, um apelo a que Saddam Hussein cumpra as suas obrigações e evite as "sérias consequências" previstas na Resolução 1441 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada por unanimidade, mais de quatro meses. Aos 12 anos de incumprimento, o Iraque juntou quatro meses de oportunidade perdida.
  551. </p>
  552. <p>
  553. O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!
  554. </p>
  555. <p>
  556. O Orador: - Esteve sempre nas mãos de Saddam Hussein a possibilidade de resolver este conflito, cumprindo as suas obrigações e respeitando o direito internacional. Mas não o fez. O regime iraquiano apostou sistematicamente numa estratégia de confronto e de desprezo pela comunidade internacional.
  557. <br />
  558. Se uma intervenção militar vier a ter lugar, o ditador iraquiano não é vítima. Ele é, sim, o único réu, o único culpado e o único responsável. Vítima será a comunidade internacional, desafiada na sua autoridade pelo tirano do Iraque. Vítima é o povo iraquiano, submetido ao longo dos anos a uma das ditaduras mais violentas e mais sangrentas de que memória na vida internacional.
  559. </p>
  560. <p>
  561. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  562. </p>
  563. <p>
  564. Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Alguém observou que não maior sabedoria que não seja a de saber calcular bem o princípio e o fim das coisas. No caso do Iraque, Saddam Hussein deve ser levado a compreender que é preciso pôr um ponto final neste conflito, que desafia a lei, a ordem e a segurança.
  565. <br />
  566. Por isso mesmo, é legítimo à comunidade internacional começar a preparar-se para, em estreita colaboração com as Nações Unidas, assegurar os seguintes objectivos: garantir a integridade territorial do Iraque; auxiliar o povo iraquiano a reintegrar-se na nossa comunidade global, libertando-o das malhas da opressão; e apoiar o estabelecimento no Iraque de um regime democrático, fundado no respeito pelos direitos humanos e pela legalidade internacional.
  567. </p>
  568. <p>
  569. O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!
  570. </p>
  571. <p>
  572. O Orador: - Enquanto Primeiro-Ministro de Portugal, muito me honra ficar associado a todos quantos prezam os valores da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.
  573. </p>
  574. <p>
  575. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  576. </p>
  577. <p>
  578. estes valores garantem a paz.
  579. <br />
  580. E a verdade, nua e crua, é esta: a paz passa pelo desarmamento do Iraque. Esta é a vontade unânime da comunidade internacional: o desarmamento do Iraque.
  581. </p>
  582. <p>
  583. O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Muito bem!
  584. </p>
  585. </body>
  586. <body>
  587. <p>
  588. 4189 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  589. </p>
  590. <p>
  591. &nbsp;
  592. </p>
  593. <p>
  594. O Orador: - A ditadura iraquiana é uma ameaça à paz. Desarmar o Iraque é um objectivo essencial de todos quantos, em Portugal, na Europa e no mundo, querem a paz, condenam o terrorismo e desejam viver em segurança, em liberdade e em tranquilidade.
  595. </p>
  596. <p>
  597. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  598. </p>
  599. <p>
  600. Sr. Presidente, Srs. Deputados: Chegou o momento de decidir. Decidir com coerência, decidir com coragem. E a responsabilidade de um governante é de decidir, não pensando no seu interesse pessoal ou político mas nos interesses permanentes daqueles que representa; pensando, acima de tudo, no interesse nacional.
  601. </p>
  602. <p>
  603. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  604. </p>
  605. <p>
  606. Ao longo dos meses, fui sempre claro e coerente: o objectivo era desarmar o Iraque, o meio privilegiado era o quadro das Nações Unidas; em caso de impossibilidade, Portugal não seria politicamente neutral entre os seus aliados e uma ditadura ignóbil e violenta, que desafia a paz e a segurança.
  607. </p>
  608. <p>
  609. Vozes do PSD: - Muito bem!
  610. </p>
  611. <p>
  612. O Orador: - Mantenho, hoje, e aqui solenemente reafirmo, no momento da decisão, o que sempre afirmei: Portugal não vai declarar guerra ao Iraque; Portugal não vai enviar tropas para o Iraque; Portugal não vai participar em qualquer operação militar. Mas, caso uma intervenção militar venha a ter lugar, Portugal vai estar, no plano político e dos princípios, ao lado dos seus amigos e aliados, contra uma ditadura que ameaça a paz e a segurança dos povos.
  613. </p>
  614. <p>
  615. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  616. </p>
  617. <p>
  618. Nada disto é novo. Sempre o disse e reafirmei aqui, na Assembleia da República, em 19 de Setembro de 2002 e em 31 de Janeiro deste ano. E a Assembleia da República deliberou explicitamente, em 20 de Fevereiro de 2003, aprovar esta orientação política.
  619. <br />
  620. Tudo isto é importante, por uma razão muito simples que vale a pena questionar, agora que chegamos ao momento decisivo: se houver, como infelizmente parece ser o caso, a necessidade de uma intervenção militar, então de que lado é que Portugal deveria estar?
  621. </p>
  622. <p>
  623. Vozes do PSD: - Exactamente!
  624. </p>
  625. <p>
  626. Vozes do PS, do PCP, do BE e de Os Verdes: - Da paz!
  627. </p>
  628. <p>
  629. O Orador: - Se houver uma intervenção militar, Portugal deveria estar do lado do regime despótico de Saddam ou do lado dos nossos aliados?
  630. </p>
  631. <p>
  632. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  633. </p>
  634. <p>
  635. Vozes do PCP, do BE e de Os Verdes: - Do lado da paz!
  636. </p>
  637. <p>
  638. O Orador: - Alguém verdadeiramente quer, sugere ou propõe que, em caso de conflito, Portugal esteja do lado da ditadura iraquiana, que sistematicamente ameaça a paz e desafia a legalidade internacional?
  639. </p>
  640. <p>
  641. Protestos do PS e do PCP.
  642. </p>
  643. <p>
  644. Vozes do PS: - Não! Nunca ninguém propôs isso!
  645. </p>
  646. <p>
  647. O Orador: - Então, alguém quer que Portugal esteja numa posição de neutralidade que, na prática, significaria beneficiar o infractor e favorecer o prevaricador?
  648. </p>
  649. <p>
  650. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  651. </p>
  652. <p>
  653. Ou, pelo contrário, deverá Portugal estar ao lado dos nossos amigos e aliados, que são exemplos de liberdade e de democracia e que, ao longo dos anos, nos ajudam a construir a paz, a segurança e a tranquilidade?
  654. </p>
  655. <p>
  656. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  657. </p>
  658. <p>
  659. Para mim, para o Governo, não qualquer dúvida, não qualquer hesitação: governar é decidir, decidir com coragem, com valores e em função dos superiores interesses nacionais.
  660. </p>
  661. <p>
  662. O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): - Muito bem!
  663. </p>
  664. <p>
  665. O Orador: - O Governo não foge das suas responsabilidades! Quero um País com coragem de decidir e não com medo de agir!
  666. </p>
  667. <p>
  668. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  669. </p>
  670. <p>
  671. Quero um País que, entre a ditadura e a democracia, entre a tirania e a liberdade, saiba escolher e optar. Estamos do lado dos valores da liberdade, da democracia, da segurança e da paz.
  672. </p>
  673. <p>
  674. Vozes do PCP: - Não parece!
  675. </p>
  676. <p>
  677. O Orador: - Quero o meu País a viver em segurança: segurança para as pessoas, para as famílias, para os nossos filhos.
  678. </p>
  679. <p>
  680. Vozes do PCP e do BE: - Não parece!
  681. </p>
  682. <p>
  683. O Orador: - Um País mais seguro constrói-se com um mundo mais seguro, um mundo com menos armas de destruição maciça, um mundo sem a ameaça de terrorismo.
  684. </p>
  685. <p>
  686. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  687. </p>
  688. <p>
  689. Não é fugindo às nossas responsabilidades que ficamos mais seguros. É, sim, firmando a solidariedade aos nossos aliados, garantindo o seu total apoio, e dos meios que têm à disposição, à segurança e à tranquilidade dos portugueses.
  690. </p>
  691. <p>
  692. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  693. </p>
  694. <p>
  695. Esta é, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a posição que melhor serve os nossos interesses nacionais. Uma posição que afirma, que garante e que reforça a credibilidade de Portugal.
  696. <br />
  697. Quero que Portugal seja um país desenvolvido e justo. Mas quero o meu país, o nosso país, viva em paz e em segurança, com uma voz credível, coerente e respeitada em Portugal, na Europa e no mundo. Este é, de facto, o rumo; este é o superior interesse que o Governo ponderou no momento de uma decisão difícil, mas corajosa, como sempre o superior interesse de Portugal.
  698. </p>
  699. <p>
  700. Aplausos do PSD e do CDS-PP, de .
  701. </p>
  702. </body>
  703. <body>
  704. <p>
  705. 4190 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  706. </p>
  707. <p>
  708. &nbsp;
  709. </p>
  710. <p>
  711. O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos dar início à primeira volta de perguntas dirigidas ao Sr. Primeiro-Ministro, sendo o primeiro orador inscrito o Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues.
  712. <br />
  713. Tem a palavra, Sr. Deputado. Dispõe, para o efeito, de 5 minutos.
  714. </p>
  715. <p>
  716. O Sr. Eduardo Ferro Rodrigues (PS): - Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, devo dizer-lhe que, do meu ponto de vista, a sua intervenção foi um lamentável exercício de retórica e de demagogia.
  717. </p>
  718. <p>
  719. Aplausos do PS.
  720. </p>
  721. <p>
  722. Em primeiro lugar, a verdade nua e crua, terminologia que utilizou, é que esta Cimeira, dita atlântica, não ficará na História devido às suas declarações.
  723. <br />
  724. Ninguém ligou às declarações da Cimeira Atlântica,
  725. </p>
  726. <p>
  727. Protestos do PSD e do CDS-PP.
  728. </p>
  729. <p>
  730. ninguém ficará a falar da Cimeira Atlântica devido àquilo que de retórica se exprimiu sobre um dia futuro de paz para o Médio Oriente.
  731. <br />
  732. A verdade é que o Sr. Primeiro-Ministro parece não ter consciência de que a indignação e a censura são, neste momento, muito fortes no nosso país, devido à associação errada, à associação ilegítima, à associação injusta que o Sr. Primeiro-Ministro colocou, pondo Portugal ao serviço da administração Bush, numa lógica de guerra, que é a lógica em que estamos neste momento.
  733. </p>
  734. <p>
  735. Aplausos do PS e do Deputado do BE João Teixeira Lopes.
  736. </p>
  737. <p>
  738. E não venha novamente com a história do Kosovo, porque no Kosovo não houve seis meses de debate nas Nações Unidas, não houve uma posição que tivesse sido apresentada e antecipadamente derrotada no Conselho de Segurança. Os Estados Unidos da América e o Reino Unido tentaram mobilizar votos a seu favor, tinham 4 votos contra 11 no Conselho de Segurança, enquanto que no Kosovo tínhamos a NATO unida, tínhamos a União Europeia unida
  739. </p>
  740. <p>
  741. O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): - E quem é que a dividiu agora?!
  742. </p>
  743. <p>
  744. O Orador: - e tínhamos a necessidade de evitar um genocídio. Não venham com o argumento do Kosovo, que nada tem a ver o assunto.
  745. </p>
  746. <p>
  747. Aplausos do PS.
  748. </p>
  749. <p>
  750. Sr. Primeiro-Ministro, em alguns meses, V. Ex.ª contribuiu para estilhaçar a posição da União Europeia,
  751. </p>
  752. <p>
  753. Vozes do CDS-PP: - O quê?!
  754. </p>
  755. <p>
  756. O Orador: - em vez de pôr Portugal a trabalhar para um consenso entre, por um lado, Reino Unido e Espanha e, por outro, Alemanha e França.
  757. </p>
  758. <p>
  759. Aplausos do PS.
  760. </p>
  761. <p>
  762. Protestos do PSD e do CDS-PP.
  763. </p>
  764. <p>
  765. Eu quero saber o que vai acontecer neste contexto à extrema ambição da União Europeia, que é a política de coesão económica e social, depois da acção que o Sr. Primeiro-Ministro teve contra a União Europeia em todo esse processo.
  766. </p>
  767. <p>
  768. Aplausos do PS.
  769. </p>
  770. <p>
  771. O Sr. Primeiro-Ministro contribuiu para marginalizar a ONU, para marginalizar o Conselho de Segurança. O Sr. Primeiro-Ministro arrasou o consenso sobre política europeia e política externa que sempre aconteceu entre o PSD e o PS, porque tomou iniciativas à margem de qualquer diálogo quando assinou a "Carta dos Oito", quando fez as declarações à saída do Luxemburgo e quando patrocinou um "conselho de guerra", como aquele que aconteceu, infelizmente, nos Açores.
  772. </p>
  773. <p>
  774. Aplausos do PS e do Deputado do BE João Teixeira Lopes.
  775. </p>
  776. <p>
  777. Protestos do PSD e do CDS-PP.
  778. </p>
  779. <p>
  780. O Sr. Primeiro-Ministro desprezou as posições do Chefe de Estado, que é o Comandante Supremo das Forças Armadas, e que disse várias vezes que esta era uma solução ilegítima, que o avanço contra o Conselho de Segurança estava ferido de ilegitimidade.
  781. <br />
  782. Assim, pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro: com que direito é que o senhor vem hoje aqui com "falinhas mansas", depois de associar Portugal a uma situação e a nossa bandeira às de Estados que mostraram, logo no dia a seguir, o seu desprezo pelo direito internacional?
  783. <br />
  784. Com que direito é que o senhor abriu as portas da Região Autónoma dos Açores a um "conselho de guerra", de onde saiu um ultimato sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas?
  785. </p>
  786. <p>
  787. Aplausos do PS e do Deputado do BE João Teixeira Lopes.
  788. </p>
  789. <p>
  790. Protestos do PSD e do CDS-PP.
  791. </p>
  792. <p>
  793. Com que direito é que o senhor disse aos portugueses, 48 horas antes, que aquilo iria ser uma Cimeira para dar espaço à diplomacia e à paz? O senhor foi enganado? O senhor não sabia? Ou o senhor enganou os portugueses 48 horas antes?
  794. </p>
  795. <p>
  796. Aplausos do PS.
  797. </p>
  798. <p>
  799. Com que direito é que o senhor põe Portugal e a nossa bandeira ao lado daqueles que estão na linha da frente da guerra, na linha da frente do belicismo?
  800. <br />
  801. Caro Sr. Primeiro-Ministro, admito que a guerra seja rápida, seja cirúrgica e que o ditador Saddam Hussein seja banido, mas nada disto pode pôr em causa a questão fundamental, que é a de que o senhor e o seu Governo não se colocaram à margem das Nações Unidas como também contra as Nações Unidas, o que é uma vergonha para Portugal.
  802. </p>
  803. <p>
  804. Aplausos do PS, de .
  805. </p>
  806. <p>
  807. O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, dispondo, para o efeito, de 5 minutos.
  808. </p>
  809. </body>
  810. <body>
  811. <p>
  812. 4191 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
  813. </p>
  814. <p>
  815. &nbsp;
  816. </p>
  817. <p>
  818. O Sr. Primeiro-Ministro: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, vou responder-lhe com a serenidade que o momento exige e reclama.
  819. </p>
  820. <p>
  821. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  822. </p>
  823. <p>
  824. Protestos do PS.
  825. </p>
  826. <p>
  827. Na sua intervenção, o Sr. Deputado não teve sequer uma palavra de condenação para com o actual regime iraquiano.
  828. </p>
  829. <p>
  830. Protestos do PS.
  831. </p>
  832. <p>
  833. O Sr. Manuel Alegre (PS): - chega!
  834. </p>
  835. <p>
  836. O Orador: - Quero dizer-lhe, Sr. Deputado, que eu não sou o seu inimigo. Podemos ser adversários políticos, mas não sou o seu inimigo. O inimigo de todos nós devem ser as ditaduras, que violam os direitos humanos.
  837. </p>
  838. <p>
  839. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  840. </p>
  841. <p>
  842. Protestos do PS.
  843. </p>
  844. <p>
  845. O Sr. João Teixeira Lopes (BE): - O inimigo é a guerra!
  846. </p>
  847. <p>
  848. O Orador: - É por isso que entendo a sua intervenção, assim devo entendê-la, à luz das anunciadas moções de censura ao Governo. Quatro moções de censura contra este Governo.
  849. <br />
  850. O Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues anunciou apresentar uma moção de censura exactamente no único momento em que não deveria apresentá-la.
  851. </p>
  852. <p>
  853. Vozes do PS, do PCP e do BE: - Oh!
  854. </p>
  855. <p>
  856. O Orador: - Isto porque, se uma crise internacional e se o objectivo da moção de censura é derrubar o Governo - a não ser que a moção de censura não seja a sério -, este não é o momento para que haja uma crise política em Portugal, este não é o momento para que haja apenas luta político-partidária.
  857. </p>
  858. <p>
  859. Vozes do PSD: - Muito bem!
  860. </p>
  861. <p>
  862. O Orador: - Pelo contrário, é o momento em que se exigia de todos sentido de compromisso, responsabilidade, sentido de Estado e alguma vontade de colaborar em termos de unidade nacional.
  863. </p>
  864. <p>
  865. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  866. </p>
  867. <p>
  868. Protestos do PS.
  869. </p>
  870. <p>
  871. Este não é o momento para a apresentar. É o único momento em que talvez não pudessem apresentá-la, e ao apresentarem-na sobre o tema - o único sobre o qual o Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues não pode fazê-lo ao lado do PCP e do Bloco de Esquerda - de política externa e de defesa, o Sr. Deputado, está a deitar fora mais de 25 anos de sentido de Estado no Partido Socialista.
  872. </p>
  873. <p>
  874. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  875. </p>
  876. <p>
  877. Protestos do PS e do BE.
  878. </p>
  879. <p>
  880. Está a deitar fora o património construído por tantos responsáveis políticos, de vontade de convergência nas grandes questões da defesa nacional, nas grandes questões da política externa, nomeadamente na da relação transatlântica.
  881. <br />
  882. Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, em 20 de Setembro de 2001, estava V. Ex.ª no governo, na sequência do 11 de Setembro, os Estados Unidos da América pedem a Portugal autorização para o uso da Base das Lajes para o combate ao terrorismo. No próprio dia, à tarde, o Ministro Jaime Gama confirma que Portugal respondeu prontamente e de forma positiva.
  883. </p>
  884. <p>
  885. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  886. </p>
  887. <p>
  888. Vozes do PS: - E muito bem!
  889. </p>
  890. <p>
  891. O Orador: - Reacção do PCP: acusa o governo de António Guterres de dar cobertura a uma decisão unilateral e de envolver perigosamente Portugal nos riscos de um conflito belicista.
  892. </p>
  893. <p>
  894. O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Porque não era a Coreia do Norte!
  895. </p>
  896. <p>
  897. O Orador: - Reacção do Bloco de Esquerda: acusa António Guterres de repetir o delírio de George Bush.
  898. <br />
  899. A 24 de Setembro, alguns dias depois, bastante depois, António Guterres veio ao Parlamento e pediu consenso ao Partido Socialista, ao PSD e ao CDS-PP, e teve esse consenso, porque nós portámo-nos com responsabilidade e com sentido de Estado.
  900. </p>
  901. <p>
  902. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  903. </p>
  904. <p>
  905. Na questão do Kosovo, discordei do método, discordei de o Primeiro-Ministro de então ter comprometido forças militares e F-16 sem ter vindo previamente ao Plenário da Assembleia da República.
  906. </p>
  907. <p>
  908. Vozes do PSD e do CDS-PP: - Muito bem!
  909. </p>
  910. <p>
  911. O Orador: - Mas, quanto à substância, apesar de ser uma questão difícil, apoiei o Sr. Primeiro-Ministro de então.
  912. <br />
  913. Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, é por isso que lhe digo: quando momentos destes, -se o sentido de responsabilidade, a coragem e o sentido de Estado dos líderes políticos. E é por isso que lhe digo que, numa situação como esta, estou muito orgulhoso pelo facto de estar ao lado dos nossos aliados a bandeira de Portugal - era ali mesmo que devia estar a nossa bandeira, a bandeira de Portugal!!
  914. </p>
  915. <p>
  916. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  917. </p>
  918. <p>
  919. Neste momento, elementos do público presente numa das galerias levantam-se e permanecem de e de braços no ar, tendo vestidas t-shirts com mensagens contra a guerra no Iraque.
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  921. <p>
  922. O Sr. Presidente: - Relembro que os cidadãos presentes nas galerias não podem manifestar-se de forma alguma. Peço aos elementos das forças de segurança para retirarem os cidadãos envolvidos neste protesto, que é ilegítimo e contrário às regras de funcionamento da Assembleia da República. Tenham a bondade de sair imediatamente das galerias.
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  924. <p>
  925. Pausa.
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  930. 4192 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
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  932. <p>
  933. &nbsp;
  934. </p>
  935. <p>
  936. Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, tem a palavra para replicar.
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  938. <p>
  939. O Sr. Eduardo Ferro Rodrigues (PS): - Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, com toda serenidade, devo lembrar-lhe
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  941. <p>
  942. Protestos do PSD.
  943. </p>
  944. <p>
  945. que o Sr. Primeiro-Ministro não está aqui para atacar a posição do PS - está aqui para explicar, porque deve explicações ao País!
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  948. Aplausos do PS.
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  950. <p>
  951. O Sr. Primeiro-Ministro, se quiser falar um dia a sério do passado, nós poderemos recordar o que se passou de pressão sua, então chefe do PSD, aquando das vésperas do referendo em Timor e quem é que teve a coragem política nesse momento.
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  953. <p>
  954. Aplausos do PS.
  955. </p>
  956. <p>
  957. Sr. Primeiro-Ministro, nós somos os primeiros a ter sentido de compromisso e a ter responsabilidade - o Sr. Primeiro-Ministro é que não teve nem responsabilidade, nem sentido de compromisso, nem sequer com o Chefe de Estado de Portugal que disse que isto era ilegítimo e o senhor avançou! Quanto mais o Chefe de Estado dizia que era ilegítima uma intervenção unilateral, mais o senhor avançou no Luxemburgo e com esta Cimeira das Lajes, a que eu próprio dei o benefício da dúvida, porque não sabia qual seria o resultado, mas foi uma vergonha: o "conselho de guerra", a ameaça, a chantagem, a pressão, o ultimato sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas! É uma vergonha, Sr. Primeiro-Ministro!
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  959. <p>
  960. Aplausos do PS e do Deputado do BE João Teixeira Lopes.
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  962. <p>
  963. Sr. Primeiro-Ministro, eu disse pouco tempo que, muitas vezes, as moções de censura contra uma maioria absoluta servem para fortalecer essa maioria. E até admito que, do ponto de vista político interno, isso possa acontecer, mas tenho a obrigação e o Partido Socialista tem a obrigação de ser consequente com tudo o que disse desde Setembro! E desde Setembro que nós dissemos que estaríamos sempre contra qualquer intervenção feita à margem do Conselho de Segurança das Nações Unidas! O Sr. Primeiro-Ministro, sobre essa matéria, calou-se! Calou-se até ao fim! E agora, no fim, vem dar cobertura e aparecer nas fotografias ao dos líderes da guerra! Os Açores não merecem isto! Portugal não merece esta atitude!
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  966. Aplausos do PS e do Deputado do BE João Teixeira Lopes.
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  968. <p>
  969. Quem é responsável pela ruptura dos consensos históricos existentes entre PS, PSD, CDS-PP e outros partidos nesta Assembleia da República em matéria de política externa, nomeadamente entre estes três, é o Sr. Primeiro-Ministro. E eu o afirmei: o senhor é o primeiro responsável porque, à revelia de qualquer entendimento, mesmo ao mais alto nível do Estado português e com o principal partido da oposição, o senhor assinou uma carta que é hoje vista como um instrumento de guerra, o senhor proferiu declarações no Luxemburgo para preparar a opinião pública portuguesa para a guerra, e o senhor patrocinou uma reunião de chefes de guerra, que eram todos do Conselho de Segurança - o único país que estava e que não é do Conselho de Segurança era Portugal e era o Sr. Primeiro-Ministro que estava! Portugal não merece ficar na agenda e no mapa do terrorismo internacional por causa das fotografias do Sr. Primeiro-Ministro Durão Barroso!
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  972. Aplausos do PS.
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  974. <p>
  975. O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
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  977. <p>
  978. O Sr. Primeiro-Ministro: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, mantendo a serenidade que está hoje, de facto, em deficit nessa bancada, tenho de começar por lhe dizer que não fale de Timor
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  980. <p>
  981. O Sr. José Sócrates (PS): - Não?! Mas era bom! !
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  983. <p>
  984. O Orador: - porque Timor Leste é, e deve continuar a ser, uma causa nacional e eu orgulho-me muito de ter ajudado a resolver a questão de Timor Leste.
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  987. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  988. </p>
  989. <p>
  990. O Sr. Paulo Pedroso (PS): - Esqueceu-se!
  991. </p>
  992. <p>
  993. O Orador: - Mas que evocou Timor, é útil talvez fazê-lo noutra perspectiva: ouvir, por exemplo, o que nos diz o Prémio Nobel da Paz, Ramos Horta, comparando Timor ao Iraque. Diz ele que "implorámos que qualquer potência estrangeira nos libertasse da opressão, pela força se necessário". E dizia Ramos Horta, sobre esta questão de Timor, em relação às manifestações ditas da paz
  994. </p>
  995. <p>
  996. O Sr. Artur Penedos (PS): - O melhor é citar o Papa!
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  998. <p>
  999. O Orador: - "deveriam centrar-se no verdadeiro vilão, com o objectivo de o levar a destruir as suas armas de destruição maciça e a abandonar o poder; negligenciar esta realidade a favor de um anti-americanismo simplista e irracional é ofuscar o verdadeiro debate sobre a guerra e a paz". E conclui o mesmo Prémio Nobel da Paz: "no caso da guerra, o movimento anti-guerra poderia reivindicar uma vitória por impedir a guerra, mas teria também de aceitar que ajudou a manter no poder o ditador brutal e teria de se explicar às dezenas de milhares das suas vítimas". Eu estou de acordo com o Prémio Nobel da Paz, estou de acordo que, às vezes, é necessário, pela força, acabar com uma ditadura que constitui uma ameaça à paz e à segurança internacional.
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  1001. <p>
  1002. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
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  1004. <p>
  1005. Em relação à sua reiterada referência ao Sr. Presidente da República, a melhor resposta a essas referências foi dada pelo Sr. Presidente da República quando, a propósito de um alegado conflito institucional, disse que era "ridículo".
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  1008. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
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  1010. <p>
  1011. E é, de facto! Mas, além de ridículo, é grave porque se entende, depois das declarações do Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues hoje, depois das quatro moções de censura anunciadas, que aquilo que verdadeiramente os
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  1016. 4193 | I Série - Número 100 | 19 de Março de 2003
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  1021. <p>
  1022. preocupa não é a questão da paz e da guerra, mas é fazerem guerra ao Governo de Portugal, lançarem uma guerra entre o Presidente da República e o Governo de Portugal.
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  1024. <p>
  1025. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
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  1027. <p>
  1028. Num momento tão grave como este, do ponto de vista internacional, poderem mostrar que diferenças de opinião que são naturais e até legítimas, mas fazerem um esforço de sentido de compromisso, de respeito pelo Governo e, agora, pelo Primeiro-Ministro eleito pelos portugueses, e fazerem um esforço de sentido de Estado e de responsabilidade a bem da unidade nacional, numa crise com estas proporções.
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  1030. <p>
  1031. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
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  1033. <p>
  1034. O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Guilherme Silva.
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  1037. O Sr. Guilherme Silva (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, ocasiões na vida dos países e dos Estados democráticos em que a oposição se fortalece e enobrece quando sabe convergir com quem governa, quando sabe distinguir o acessório do principal, quando sabe distinguir Portugal das lutas partidárias internas. Era isso que se esperava de um oposição responsável como se esperava do partido que é alternância de poder, o PS.
  1038. </p>
  1039. <p>
  1040. Vozes do PSD: - Muito bem!
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  1043. O Orador: - Infelizmente, não é a isto que se assiste em Portugal. E deixem que vos diga que se esperava que, pelo menos, o maior partido da oposição soubesse distinguir da questão de fundo a importância que teve a cimeira dos Açores, a importância que teve o facto de a cimeira se realizar em território português, a importância que teve a participação de pleno direito do Primeiro-Ministro de Portugal nesta cimeira ao lado dos líderes mundiais. Esperava-se essa distinção, mas também a oposição continua partidariamente cega - não viu a importância que teve para Portugal a sua projecção no mundo e para a diplomacia portuguesa o êxito que constituiu realizar-se em Portugal esta cimeira.
  1044. <br />
  1045. Dir-se-ia que um nítido despeito, que uma atitude de mesquinhez, que uma atitude ridícula por parte da oposição.
  1046. <br />
  1047. Srs. Deputados, o PS, aliás, nesta matéria, anda, tal qual andava no governo, aos ziguezagues. Vejamos, por exemplo, o que aconteceu com a autorização para a utilização da Base das Lajes, que o Sr. Presidente da República reconheceu também que autorizou, facto a que o Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, à saída de uma audiência da Presidência da República, também manifestou a sua concordância. Imagine-se agora o que seria para Portugal se V. Ex.ª fosse Primeiro-Ministro: agora, negava a autorização que tinha dado! Os ziguezagues que os senhores fizeram na política interna, trariam agora para a política externa, poriam de rastos a credibilidade de Portugal.
  1048. </p>
  1049. <p>
  1050. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  1051. </p>
  1052. <p>
  1053. Aliás, os senhores sabem que o Dr. Carlos César está de acordo com a cedência, com a autorização para a utilização das Lajes; os senhores sabem que o Engenheiro João Cravinho está de acordo com a cedência das Lajes; e em relação à posição do Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues, um artigo extraordinário do Dr. Vasco Pulido Valente que, no que diz respeito à cimeira das Lajes, diz: "chegou a cimeira das Lajes, que permitiu ao Sr. Eduardo Ferro estabelecer uma confusão - para evitar uma vergonha, pretende que Barroso participe de pleno direito nas deliberações mas previne que, participando, Barroso será provavelmente forçado a engolir um resultado muito grave para Portugal. Ninguém mete os pés pelas mãos com mais facilidade". E não é o Dr. Vasco Pulido Valente
  1054. </p>
  1055. <p>
  1056. O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - Cite uma intervenção do Vasco aqui no Parlamento!
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  1058. <p>
  1059. O Orador: - O Dr. António Barreto, também em relação à matéria da posição do PS sobre esta questão, diz: "quanto ao PS, primeiro partido da oposição, aquele de quem mais se podia esperar uma atitude e uma política, a sua diversidade interna ultrapassa a dualidade - todas as opiniões são possíveis. Um perfeito caos a que chamam partido plural. Há os belicistas e os pacifistas; há os simpatizantes dos americanos e os do Chirac; há os defensores da segunda resolução do Conselho de Segurança e os que se contentam com a primeira; há os que exigem o acordo da ONU e os que legitimam a intervenção unilateral americana. Dito de outra maneira, há sempre um PS para qualquer política". É este o PS do Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues.
  1060. </p>
  1061. <p>
  1062. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  1063. </p>
  1064. <p>
  1065. E é interessante ter ouvido ontem o Sr. Deputado Jorge Coelho dizer que não um socialista que se preze que não esteja com a Direcção do PS nesta questão do Iraque, o que significa que votam ao desprezo o Sr. Deputado Jaime Gama e o Sr. Deputado Medeiros Ferreira! O Sr. Deputado Jaime gama que está sentado significativamente ao fundo, na última bancada, demarcando-se das posições da primeira fila!
  1066. </p>
  1067. <p>
  1068. Protestos do PS.
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  1070. <p>
  1071. Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, a consciência do Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues e dos socialistas roía quando tomou a iniciativa de falar no caso do Kosovo, quando teve a necessidade de falar no caso do Kosovo, em que o Engenheiro Guterres, aqui, na Assembleia da República, veio dizer que foi muito bem decidido não ter ido a questão às Nações Unidas porque a resolução para a intervenção no Kosovo seria chumbada com veto. Vejam os dois pesos e as duas medidas que VV. Ex.as têm! A necessidade que V. Ex.ª teve aqui de antecipar esta questão!
  1072. <br />
  1073. Sr. Primeiro-Ministro, quero dizer-lhe esta coisa muito simples: o Sr. Deputado Eduardo Ferro Rodrigues poderá aparecer proximamente numa sondagem de forma muito positiva, numa qualquer sondagem efémera motivada por esta emotividade mediática; mas V. Ex.ª, para bem de Portugal, vai ficar na História como tendo feito a opção correcta, a opção de defesa do interesse nacional!
  1074. <br />
  1075. É essa a conclusão deste debate, é esta a conclusão da coerência e da coragem das suas posições!
  1076. </p>
  1077. <p>
  1078. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
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  1080. <p>
  1081. O Sr. Presidente: - O Sr. Primeiro-Ministro tem a palavra para responder.
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  1092. O Sr. Eduardo Ferro Rodrigues (PS): - A quê?!
  1093. </p>
  1094. <p>
  1095. O Sr. Primeiro-Ministro: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Guilherme Silva, muito obrigado pelas suas palavras.
  1096. <br />
  1097. , de facto, momentos em que, no plano da decisão política, temos de actuar sem um único momento pensar naquilo que é mais popular ou mais fácil.
  1098. </p>
  1099. <p>
  1100. Protestos do PS.
  1101. </p>
  1102. <p>
  1103. Esta é sem dúvida a questão mais difícil com que me confrontei ao longo do meu percurso político. É uma questão de extrema dificuldade e complexidade.
  1104. </p>
  1105. <p>
  1106. Protestos do PS.
  1107. </p>
  1108. <p>
  1109. O caminho mais fácil teria sido o de me abrigar atrás de uma sempre conveniente neutralidade ou de me esconder atrás de uma fácil ambiguidade. Mas penso que aquilo que está em causa nesta crise em relação à própria construção da Europa, no que respeita à relação euro-atlântica e, sobretudo, quanto à segurança dos portugueses, obrigava Portugal a tomar esta opção.
  1110. </p>
  1111. <p>
  1112. Vozes do PSD e do CDS-PP: - Muito bem!
  1113. </p>
  1114. <p>
  1115. O Sr. Paulo Pedroso (PS): - Segurança?! Isto é inacreditável!
  1116. </p>
  1117. <p>
  1118. O Orador: - A questão principal tem a com a segurança. Sou, - e este Governo é - decididamente, a favor da Europa e da União Europeia. Neste momento a União Europeia não é ainda (embora possa vir a -lo) uma organização colectiva de segurança. Neste momento a nossa segurança é garantida pela NATO, onde o principal aliado é, de facto, a potência norte-americana.
  1119. </p>
  1120. <p>
  1121. Vozes do PSD e do CDS-PP: - Muito bem!
  1122. </p>
  1123. <p>
  1124. O Orador: - Por isso, quero dizer-vos, Srs. Deputados, que, quando tomámos esta opção ao lado destes nossos aliados, tomámo-la não a pensar em qualquer ganho de natureza económico-financeira,
  1125. </p>
  1126. <p>
  1127. O Sr. José Vera Jardim (PS): - Não?!
  1128. </p>
  1129. <p>
  1130. O Orador: - porque nunca meterei à frente do interesse da segurança dos portugueses quaisquer fundos que venham de Bruxelas! Para mim a segurança está à frente de qualquer outro interesse!
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  1132. <p>
  1133. Aplausos do PSD e do CDS-PP.
  1134. </p>
  1135. <p>
  1136. E quem pode garantir ou ajudar-nos a garantir a nossa segurança, a segurança dos nossos filhos e fazer com que Portugal esteja mais preparado, por exemplo, na luta contra o terrorismo é a NATO e são estes nossos aliados.
  1137. <br />
  1138. Quero, aliás, dizer-vos que, desde que Portugal anunciou esta posição, aumentou, e muito, a colaboração com estes aliados, nomeadamente com os Estados Unidos, em matéria de troca de informações, que são essenciais na luta contra o terroris